quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A culpa é do fone de ouvido

          
Terminadas as olimpíadas, os comentários que se vêem são sempre os mesmos: faltou isso e aquilo, já era esperado esse resultado, poderíamos ter mais medalhas, só isso?, que coisa, enfim, ouvimos sempre as mesmas coisas, das mesma pessoas. Acredito termos alcançados ótimos números e isso acaba gerando uma euforia na expectativa de grandes resultados para Rio 2016. 


Alguns esportes estiveram em evidência em 2012, foi o caso do futebol. Com uma constelação de "craques" a nossa seleção decepcionou (evidente que uma medalha de prata é digna de louvor), porém me apego a questão ligada as expectativas criadas em torno do rendimento dos jogadores. Essa questão cultural fica ainda mais reforçada quando da comparação que faço a seguir. O ginasta Diego Hypólito, em sua participação desabou em sua especialidade, o solo. Logo após o desastre ele pediria perdão aos pais, ao Flamengo, aos patrocinadores, ao povo brasileiro e ao seu treinador. Visivelmente emocionado ele se definiu como um fracassado. A meu ver, ele carregava consigo o peso de alguém que tem um compromisso muito além das medalhas, a possibilidade de alavancar a prática talvez, o patriotismo, a gratidão pelo esporte, a busca por uma condição melhor de trabalho, sei lá, qualquer coisa ligada as questões motivacionais, mas não quero entrar no mérito da questão. 

Quando da comparação com o ginasta, queria colocar o futebol na mesma situação. Jamais imaginei algum de nossos "craques" aparecendo na telinha pedindo perdão pelo fracasso, chorando inconsolavelmente por decepcionar aos sonhos do povo brasileiro. Parem pra pensar: Neymar ou qualquer outro jogador - com todo seu mau gosto ao usar aqueles bizarros fones de ouvido - sem o sorriso forçado, obrigado a encarar os olhos de cada brasileiro decepcionado com tudo isso. IMPOSSÍVEL. Medo, acho que não. Os nossos astros estão rodeados de agentes cuidando de suas vidas, o que falam, o que veem, o que sentem, nada passa despercebido, eles estão robotizados, estão preparados o bastante pra enfrentar a retranca dos nossos corações. As vaias no amistoso da última semana contra a África do Sul no Morumbi evidenciaram a revolta e acreditem: "eles" sentiram, se abraçaram nesta segunda-feira no jogo contra a China, o craque (que  não lançou moda, o cabelo que ele usa, o Léo Moura usa há tempos) disse que ninguém tira o sorriso do seu rosto, isso mesmo: ninguém. Isso é verdade, talvez porque ele não tenha o patriotismo do ginasta, talvez ele não tem a mesma gratidão, não precise de tudo isso, afinal de contas, após o fim dos jogos ele volta pra sua casa, confortavelmente amparado pelo fone de ouvido, sem ouvir as lástimas do povo. 

Blindados, eles não sentem com o mesmo coração. Se assim fosse, diriam estar tristes e decepcionados. Ao contrário, se sentem injustiçados pelo escore dos jogos, pelas vaias, pelas críticas. Acho que as lágrimas que Hipólito derramou deveriam ser de orgulho por tudo o que ele enfrenta. Atrevo-me a compará-los (os jogadores) aos nossos políticos, afinal de contas são hábeis ao sorrir, ao continuar impávidos diante das críticas. Cínicos, se sentem ofendidos quando indagados pela imprensa e a prova do distanciamento da realidade em que vivem essas duas classes é o dia-a-dia de seus mundos, criados, exclusivamente, para a sua satisfação. 

Em tempo, acredito que Neymar seja um grande jogador, porém necessita amadurecer e, com isso, se encher de empatia para com o povo brasileiro, assim como Oscar, Lucas ou Ganso, sentindo tudo aquilo do mesmo jeito que sentimos. Depois disso, acho que a crença no nosso futebol estará engrandecida e o desamor do qual somos alvo retrocede ao seu nível mínimo. Por fim, é preciso olhar pra formação dos jogadores e evidenciar a moral do futebol brasileiro, é preciso enraizar virtudes em nossos jogadores, despertar neles a honra e a glória de defender o escrete canarinho, a essência do futebol. Dinheiro é importante sim, mas jamais será o mais importante. Ah!!!! Tirando o fone de ouvido, eles ouviriam um pouco mais.

Um grande abraço a todos... DEUS os abençoe....

2 comentários:

  1. Concordo professor.

    Ótimo texto.

    Abraços

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  2. Brilhante postagem amigo Eder!!! Concordo plenamente. Infelizmente não vemos mais, em nossos ídolos do futebol a vontade de vencer, pura e simplesmente para orgulhar nossa nação... Se nossos craques resgatassem a vontade e a busca pela vitória, como vemos em outras modalidades, voltaríamos rapidamente a sermos os melhores do mundo. Se me permite, motivado por sua oportuna postagem, publiquei minha visão sobre o assunto em meu blog(http://jogandocomraca.blogspot.com.br/2012/09/a-culpa-e-minha.html) com o objetivo de estimular o dialogo sobre o assunto. Na postagem intitulada, A CULPA É MINHA!, tento chamar a atenção à predisposição de nossos "craques" em transferir responsabilidades e culpas... Forte abraço uma vez mais e Parabéns pelo texto!!!

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